domingo, 16 de setembro de 2007

ALTA PERFORMANCE NOS COCKPITS

UM FATOR DEPENDENTE DO LIMITE HUMANO
As últimas notícias sobre o acidente com o AIRBUS da TAM, que vitimou quase 200 pessoas, deveriam levar o fabricante deste tipo de aviões a uma profunda reflexão sobre o que pode desequilibrar a relação Homem, Máquina e Meio.
Segundo informações divulgadas pela imprensa, recentemente foram realizados testes num simulador do mesmo tipo do avião sinistrado em São Paulo que reproduziram o cenário dos momentos finais do vôo JJ-3054 em Congonhas. Estes testes comprovaram que a união dos fatores que permitiram a evolução da cadeia de eventos, até se chegar à tragédia, impediu que os pilotos tomassem ações corretivas a tempo de se livrarem das complicações surgidas após o pouso da aeronave.
Ou seja, mesmo uma outra tripulação, descansada, livre das pressões de um vôo real, com experiência operacional no AIRBUS-320 e conhecendo previamente as condições adversas do cenário da tragédia, não conseguiu evitar o acidente durante os exercícios simulados.

Mas, por que será que pilotos treinados e experientes, no comando de uma aeronave ultramoderna, ainda são surpreendidos por situações incontornáveis? Será que não estamos ultrapassando os limites humanos em alguns aspectos operacionais e tecnológicos no processo de avanço da indústria aeronáutica?

Creio que a resposta a esta indagação está a cargo dos ergonomistas. Isto porque Ergonomia é a ciência que estuda a adaptação dos ambientes e das tarefas – profissionais ou utilitárias – ao desempenho dos seres humanos. Há que se avaliar constantemente o comportamento do ser humano na operação de determinados sistemas complexos e a sua capacidade de alcançar altas performances técnicas e gerenciais.

Por outro lado, um estudo ergonômico das características de novas tecnologias revolucionárias, vez por outra implantadas no sistema industrial aeronáutico, faz-se necessário para que haja antecipação à possibilidade da ocorrência de um desequilíbrio entre estas tecnologias e o desempenho humano.
Os testes simulados de São Paulo mostraram-nos que novos equipamentos e recursos sofisticados agregados aos aviões, que permanentemente confrontam a modernidade com a performance humana, eventualmente podem comprometer o conjunto de princípios cognitivos de profissionais experientes, criando-lhes dificuldades, por vezes intransponíveis, como parece ter sido o caso dos pilotos do AIRBUS acidentado em Congonhas.

Não quero, de maneira alguma, analisar antecipadamente qualquer dos fatores que possam ter contribuído para esse acidente, pois esta tarefa está a cargo da comissão de investigação do CENIPA - Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos. Entretanto, permito-me alertar os integrantes do Sistema de Aviação Civil do nosso país a respeito da mensagem subliminar trazida pelo resultado dos vôos simulados que reproduziram o cenário do acidente em Congonhas.
A inovação na indústria aeronáutica tem elevado de tal maneira os níveis de automação nas cabines dos aviões que acredito ser este o momento oportuno para reavaliações, revisões e adequações, tanto em projetos que ainda estejam nas pranchetas dos designers como nos das aeronaves já em operação. Temos que nos assegurar se existe a menor possibilidade de algum detalhe estar fugindo ao controle humano a bordo das aviões, o que exigiria uma atenção especial dos especialistas para por fim à situação.

Em todo processo inovador, notadamente os implantados nos novos aviões de carreira, temos que garantir que a formação, capacitação e treinamento sejam capazes de dotar os pilotos da indispensável habilidade e da necessária expertise para apresentar a alta performance exigida dos que ocupam os seus cockpits.
Há inúmeras situações relacionadas à segurança operacional no ambiente da aviação, usualmente destacadas após grandes acidentes, as quais impõem a necessidade de uma reformulação de normas, procedimentos e padrões.

Associado a isto, em outras ocasiões, até mesmo modificações em projetos de aeronaves mundialmente consagrados têm urgência de ocorrer com o objetivo de torná-los ajustados aos limites humanos de cognição, comportamento e desempenho. Entretanto, estas alterações em projetos industriais sempre devem estar baseadas em análises ergonômicas bastante aprofundadas.

Os estudos ergonômicos também devem focar as questões relativas ao erro humano, porquanto, apesar do homem ser o maior e mais conhecido agente de fiabilidade, comete erros, por serem componentes da natureza humana. Assim, os sistemas complexos devem integrar processos, normas de concepção e subsistemas capazes de auxiliar na correção, recuperação, absorção e mitigação dos diversos tipos de erros cometidos pelos seus operadores.
Tendo a Ergonomia a responsabilidade de investigar o comportamento dos operadores em sistemas de referência, os ergonomistas devem estudá-los no seu habitat profissional, a fim de propor estímulos à realização adequada de tarefas complexas, com performances automonitoradas, particularmente no tocante aos erros, omissões, transgressões e ao grau de dificuldade que os processos e equipamentos podem lhes causar.

Aos que ainda não conhecem, as fotos abaixo mostram a cabine de um Boeing 737-200, aeronave considerada convencional, e outra do AIRBUS 320, um equipamento ultramoderno.

Notem a diferença no que tange à modernidade e à automação. Este avanço ocorreu nos últimos 20 anos.


Figura 1. Boeing 737-200


Figura 2. AIRBUS-320

Creio que imagens comunicam mais do que mil palavras, já diz um velho ditado popular. Eu também espero que as imagens chocantes do último acidente no Brasil também tragam mais ações preventivas à indústria aeronáutica do que discursos explicativos que, não raro, se perdem ao vento.
Quem viver, verá.

6 comentários:

Anônimo disse...

Excelente post. Apenas achei que a foto do A320 seria na realidade do novíssimo A380, devido à disposição e maior quantidade de telas do EFIS/ECAM.
Quanto à questão tratada, não seria interessante um pouco mais de "rigor" no processo de design (e de homologação), devendo exigir mais testes com enfoque em mais cenários distintos?
Penso que as possibilidades de falhas do automatismo podem ser minimizadas com a adoção exaustiva de críticas sistêmicas.
Mecanismos que apóiem a consciência situacional plena/constante e a capacidade de comando "manual" seriam de importância na implementação do automatismo indispensável hoje em dia, devido à sua falibilidade, ainda que considerada improvável.

vidal disse...

Para aqueles que não conhecem Célio Eugênio, abaixo segue cópia de carta enviada pelo presidente da IFALPA à presidência do Sindicato Nacional dos Aeronautas.
Ela fala por si.

Dear Graziella,

I would like to take to opportunity to thank you for all the support you have been providing to IFALPA, Celio de Abreu and in the past Antonio Peixoto have been very active in HUPER and Accident Analysis committees and their work and inputs have been very valuable for the work of the committees. I also want to thank you for hosting several IFALPA committees in Brazil in the last months, It has been an excellent opportunity for the pilots from other regions to learn the way SNA is involve in all different safety issue in Brazil and the big effort you are doing to improve the operations safety.

I am looking forward to continue with this excellent relation between IFALPA and SNA that probed to be very important for both parties all these years.

Kind regards
Capt. Carlos Limon
President

Unknown disse...

Desde que o filósofo Romano Cícero cunhou a frase "O Erro é Humano", e isto aconteceu há mais de dois mil anos, temos constatado na maioria das tragédias da humanidade a confirmação desta afirmativa.
Na aviação existe hoje um debate sobre o que deve ser feito para eliminar o erro Humano, se isto é possível! Esta discussão se divide em três vertentes; Automatismo, Treinamento e educação e gerenciamento do erro.
Eu não me atreveria dizer qual está certa ou qual é mais eficaz, eu diria que o projeto de qualquer aeronave deveria ter no centro deste o piloto, pois é ele quem opera regularmente nas rotas para as quais foi projetada a aeronave. O que temos presenciado é que os fabricantes apostaram na vertente do automatismo, quero aqui afirmar que sou favorável aos avanços da tecnologia, mas a adoção desta, digamos assim "Filosofia", tem sido adotada de formas diferentes por cada um dos fabricantes, por exemplo alguns acreditam que a tecnologia pode ajudar a suplantar o ser humano não confiável, já outro opta por apoiar a tripulação, automatizando o que deve ser automatizado.
E em meio a isto está o piloto que por força das leis de mercado, hora está pilotando uma aeronave de um fabricante com uma filosofia de automatismo, hora está pilotando outra aeronave com uma filosofia diferente.

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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