quarta-feira, 15 de agosto de 2007

A AVIAÇÃO CIVIL E O RAZOÁVEL

O dicionário Michaelis define razoável como moderado, aceitável, suficiente. Mas, em se tratando de Aviação Civil, o que é possível estar na esfera do razoável? De fato, diferentemente do que consta no dicionário Michaelis, se considerarmos razoável como perfeito, naquilo que se refere à aviação, no curto prazo estaremos no caminho certo e ingressaremos na modernidade exigida pela atividade.
Os dois maiores acidentes da história da aviação do país nos têm feito refletir sobre todo o Sistema Brasileiro de Aviação Civil, com os seus diferentes conceitos de gestão administrativo-operacional, e nos fez admitir certos enganos sob a força da blood priority, expressão muito utilizada pelos investigadores de acidentes aéreos para explicar o caminho do aprendizado adquirido à força após as tragédias aéreas.
Ao longo dos anos, no Brasil, temos convivido com situações no cotidiano da atividade aérea que não condizem com o espectro de exigências que um sistema complexo como este demanda dos seus gestores.
O Aeroporto de Congonhas é um bom exemplo disto. Há muito, e muito antes do acidente com o AIRBUS, que pilotos e controladores de vôo, por trabalharem na linha-de-frente da operação aérea, vinham alertando as autoridades aeroportuárias quanto à má conservação das duas pistas desse aeroporto, sem sequer serem ouvidos.
Inúmeros Relatórios de Perigo, gravações de diálogos de alerta dos pilotos sobre as condições escorregadias do piso asfáltico e vários outros registros no livro de ocorrências da Torre de Controle de Congonhas formavam massa crítica suficiente para que uma ação corretiva fosse tomada, mesmo às custas de algum transtorno à malha aérea das empresas.
Na verdade, não trabalhamos em aviação somente com o tangível. A percepção de valor dos profissionais do setor e dos usuários do transporte aéreo também faz parte do universo de informações que compõem o processo decisório dos gestores da Aviação Civil. O senso comum frente à inadequação é, muitas vezes, o sinal de alerta que falta para se agir pró-ativamente em favor de um bem público, como a aviação, sem causar um mal maior aos que dele dependem e se beneficiam.
A relação da aviação com o razoável é a mesma do cidadão com a sua saúde: se não for transparente, cuidadosamente examinada e regulamente mantida pode ser que a boa qualidade de vida fique comprometida. E a saúde é tão intangível quanto a Segurança de Vôo. A falta de qualquer das duas pode, silenciosamente, levar pessoas e sistemas à crises agudas e profundas.
Da mesma maneira que não devemos tratar da saúde em clínicas, em laboratórios ou com médicos moderados ou razoáveis, a aviação não deve aceitar gestores, operadores nem equipamentos medianos: só devem servir os melhores. Pode ser que muitas vezes fiquemos frente-a-frente com os gestores de salários mais altos ou com os equipamentos e tecnologias mais caras e sofisticadas, mas, certamente, além de possuírem qualidade superior são mais seguros e confiáveis nas decisões, no desempenho e na eficácia. Não há dúvida de que vale a pena o investimento. Economizar nestes quesitos nem mesmo é razoável.
A atual crise aérea está demandando mudanças, especialmente no tocante a gestão do setor e à criação de um organismo independente de prevenção e investigação de incidentes e acidentes aeronáuticos. A sociedade civil precisa discutir melhor estas as duas questões.
O desafio do momento na Aviação Civil é, sem dúvida, ingressar na modernidade. E modernidade é não somente parecer seguro e atual, mas, acima de tudo, é garantir as melhores práticas administrativo-operacionais no trato dos recursos humanos, financeiros e materiais, além de manter a independência dos que lidam com Segurança de Vôo para que suas ações não sofram interferências de interesses díspares, preocupados exclusivamente em manter privilégios ou benefícios individuais em detrimento do bem comum, da verdade e da prevenção de acidentes e incidentes aéreos.
Então, senhores, o razoável em aviação é perseguir a perfeição. E o custo financeiro, na maioria das vezes, é secundário e não nos deve afastar do melhor investimento.

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu